quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Exposição Às Avessas


Estão todos convidados!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Exposição 22 de Janeiro - Anexo Galeria Laura Marsiaj


Carolina Martinez: Às Avessas

22 de janeiro de 2013 › 28 de fevereiro de 2013
Anexo


Aproveitando-se do formato de cubo branco e da falta de janelas do Anexo, a exposição de Carolina Martinez assume uma engenhosa e delicada operação metafórica: trazer o exterior para dentro de uma casa. Deslocando a imagem do cubo como lugar expositivo para a de um cômodo, a artista confunde a nossa percepção sobre o espaço. É um cômodo/casa às avessas. Suas pinturas alegoricamente transformam-se em fachadas ou janelas, não apenas pelo fato do objeto (pintura) possuir um tamanho aproximado de janela mas pelo que ilustra ou exibe: são persianas, beirais, correspondências imagéticas à ideia de exterioridade. Porém ao mesmo tempo em que “exibe”, a obra de Martinez oculta. São janelas que não se abrem ao exterior mas que mimetizam a ideia de um outro lugar. Não há nada para ser visto, apenas imaginação, especulação. Contudo, há um investimento romântico nesse trabalho que nos leva a acreditar que naquele fragmento, em um pedaço metafórico de paisagem, pode estar o todo, e que essa experiência não pode ser desqualificada por uma racionalidade inibidora.
A ilusão óptica que habita suas primeiras pinturas – uma suave combinação entre tinta automotiva e verniz sobre madeira – criando uma dualidade entre a ideia de figura e fundo é transferida para esse ambiente instalativo. Estes trabalhos possuem pontos de contato com osEspaços virtuais: Cantos (1967-68) e os Volumes virtuais (1968-69) de Cildo Meireles. Tal como esses últimos, as obras de Martinez são “desenhos” que utilizam três planos para definir uma figura no espaço. Ademais, cada um dos dois artistas a seu modo, realiza a transição do espaço bidimensional para um ambiente escultórico que se assemelha a uma casa. Paira sobre essas obras uma inversão das escalas. No caso de Martinez, o cubo/quarto/cômodo vira casa; o rodapé deixa de lado a sua insignificância e passa a ser o eixo central constituindo perímetros, áreas ou cantos de sólidos assim como ocorre nos Volumes Virtuais; e, finalmente a natureza é reduzida ou ampliada dependendo de como o espectador investe o seu olhar para o território criado pelas linhas econômicas, suaves e delicadas de suas pinturas.
A linha que atravessa a exposição – presentificada no rodapé que perde a sua função utilitária e ganha corpo, volume e massa adquirindo por si só um estatuto escultórico – é aquela presente nas obras pictóricas de Martinez.  O rodapé que foge ao controle da racionalidade significa a transposição de sua pesquisa pictórica para a tridimensionalidade. Ao mesmo tempo em que a artista constrói um espaço que ao invés de oferecer a paisagem ao espectador encerra-se nele mesmo (estão ali contidos a casa, a paisagem e a arquitetura), tudo na exposição está em movimento. Não são, portanto, imagens ou objetos estacionários, mas em constante trânsito. Figuram paradoxalmente entre a máxima presença e a máxima ausência.
O artificial e o real, o inventado e o concreto, o original e a cópia, a imagem e seu referente não “se dividem mais segundo uma dicotomia serena, mas mantêm relações fluidas” [1], que abrem caminho a um pensamento do verossímil. Às avessas nos revela que a realidade não é mais exatamente a mesma: ela é duplicada, confrontada, e reforçada pela ficção.


[1]CAUQUELIN, Anne. A invenção da paisagem. São Paulo: Martins, 2007, p. 109.



Felipe Scovino